Costa Nova ou a bela caldeirada de enguias

Dia 2. Da Pateira seguimos para a Costa Nova, onde eu tinha planeado mostrar ao André duas das minhas predilecções absolutas: as casas de praia típicas da região e a caldeirada de enguias do restaurante Praia do Tubarão. Este era um sítio por onde onde eu passava muitas vezes com os meus pais e traz-me por isso boas memórias das nossas férias em família.


Uma das coisas que mais me entristece nas viagens por Portugal é ver como a construção estragou o nosso país. Temos paisagens lindas mas, infelizmente, as nossas aldeias são, com algumas excepções, é claro, muito, muito feias, sobretudo nesta zona do país. Feias porque não há um ordenamento conveniente, as casas são todas em “estilos” diferentes, umas (muitas) em azulejo de casa-de-banho, outras em pedra, outras em cimento, muitas inacabadas… depois são feitos uns barracões à laia de garagem ou de arrumos, que na maioria das vezes são apenas tijolos empilhados com telhados de zinco… os jardins não estão cuidados e proliferam leões e águias nos muros e fontes com a água a sair das protuberâncias de crianças em estilo barroco.

A Costa Nova contrasta com esta falta de ordem pelas suas casas alinhadas, com estilos semelhantes, em cores contrastantes, mas que se juntam de forma harmoniosa. Acima de tudo, estão bem cuidadas, arranjadas e denotam a vontade dos que aqui vivem em manter o estilo original da construção da região.


É claro que a vista sobre a Ria de Aveiro também ajuda à beleza da envolvente. Ao longe, vêem-se as famosas barcas de Aveiro; ao perto, vários pescadores tentam a sorte com as suas canas ao longo do paredão, enquanto que no passeio as crianças e as suas famílias de divertem a pedalar. No cais, os vendedores de viagens pela ria abordam-nos insistentemente, mas a nossa atenção é desviada para os pilares do pontão, completamente infestados de mexilhões. O passeio de barco ficará para outra altura...


De regresso à rua, as crianças perdem-se na imprevisibilidade dos repuxos que saem do chão, deixando-as na eminência de um banho inesperado.



Mas havia outra coisa que nos tinha levado à Costa Nova… o que era? Ah, a bela caldeirada de enguias. Quando aqui vinha com os meus pais, lembro-me de ter rejeitado várias vezes provar a dita cuja (provavelmente pela mesma razão que leva a generalidade das pessoas a recusar-se a comer enguias), mas no dia em que o fiz arrependi-me por todas as oportunidades que tinha perdido antes. Não é pelas enguias, que sabem bem, mas não extraordinariamente; não é pelas batatas, o tomate ou as cebolas, que são como os que se encontram em tantas outras boas caldeiradas. É o molho, que é de nos trazer às lágrimas. Acho que tentar reproduzir esse molho vai ser uma das minhas futuras aventuras cuinárias. Se descobrir, partilho convosco, está prometido!

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